Infraero 50 anos

Infraero 50 anos

Naquele longínquo 31 de maio de 1973, o Brasil navegava em pleno clima de milagre econômico, e a Infraero dava o ar da graça. Criada para administrar os aeroportos do País de maneira comercial e operacional mais moderna, a empresa recebeu, no mesmo ano, sua primeira unidade: o aeroporto Internacional de Brasília e, em seguida o de Ponta Pelada, no Amazonas.

À época vinculada ao Ministério da Aeronáutica, a sede se estabeleceu no edifício Chams (mais tarde, Infraero), no Setor Comercial Sul de Brasília. O comando da estatal foi confiado ao tenente-brigadeiro do Ar Hélio Costa, que já estava na reserva, mas tinha atuado em organismos internacionais de aviação civil, inclusive na ICAO – órgão máximo de regulamentação mundial do setor aéreo. Bonachão, fala mansa e educadíssimo, Costa priorizou a formação e qualificação profissional como diferenciais de gestão.

Assim, ainda em 1973, foi formada a primeira turma de administradores de aeroportos, no Campo dos Afonsos, no subúrbio carioca de Marechal Hermes. Muitos desses administradores fizeram carreira e alguns chegaram a ser diretores e superintendentes regionais. Em junho do ano seguinte, a empresa recebia mais 13 aeroportos. Entre eles o de Curitiba, pioneiro no manuseio e armazenagem da carga aérea, que viria a ser, por muitos anos, atividade da principal receita da empresa, com índices superiores a 50% do faturamento.

Dos anos 1980 ao final da década de 1990, a Infraero viveu seus anos de glória, chegando a administrar 67 dos principais aeroportos nacionais e cerca de 130 estações de apoio à navegação aérea, por onde circularam 94,6% do nosso tráfego aéreo. Sem contar com a administração comercial do Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, importante centro de excelência científica e tecnológica. Foram administrações exitosas que priorizaram a melhoria continuada da prestação de serviços, implantando um ousado programa de qualidade e certificando processos em quase todos os aeroportos com a ISO 9001 e 14000, seguindo os mais altos padrões de normas internacionais.

Em 1997, seguindo os índices médios de crescimento da aviação de 8% ao ano, passaram pelos aeroportos brasileiros 55 milhões de passageiros, foram movimentadas 1.28 milhão de toneladas de carga e um faturamento anual acima de R$ 1,3 bilhão. A empresa chegou a gerar 10 mil empregos diretos e mais de 10 mil terceirizados, consolidando-se como a maior empresa de administração e operação de aeroportos do mundo ocidental.

A consolidação do know-how na administração de aeroportos propiciou à Infraero a condição de noiva cobiçada. Por diversas vezes, iniciou tratativas para prestação de consultoria e/ou parceria internacional, como, por exemplo, a realização compartilhada da feira internacional FIDAE, que, à época era a segunda maior feira de aviação do mundo (com média de 250 mil visitantes e muitos dólares em negócios e investimentos) , atrás apenas de Le Bourget, na França.

Só para citar mais um caso, a AENA, empresa espanhola congênere da Infraero, que ganhou recentemente a questionada concessão para administrar 11 aeroportos no Brasil, inclusive Congonhas-SP, nos anos 1980/1990 administrava em torno de 8 aeroportos em seu país, e seus executivos e executivos de outros países também buscavam a Infraero, propondo parcerias para projetos conjuntos em países menores da América Central e da África.

Por muitos anos a empresa foi orgulho dos funcionários de aeroportos, não só os da Infraero, mas os das companhias aéreas e dos demais órgãos que atuam na minicidade conhecida como aeroporto. Fato é que o modelo dinâmico e austero de gestão concedeu à empresa uma blindagem temporária invejável. Mas falar de aviação sem citar turbulências é algo mais que improvável. E elas vieram.

Em setembro de 2006, o Boeing 737-800 da Gol, que voava de Manaus para Brasília, foi atingido em pleno voo por um jato Legacy. Em julho de 2007, mais um acidente comoveu o mundo. Um avião da TAM derrapou na pista do aeroporto de São Paulo, bateu em um prédio e causou 199 mortes. Para completar, o escândalo do Mensalão chegava ao portão de embarque com check-in feito. O caos aéreo estava estabelecido. O apagão da aviação atingiu em cheio e foi determinante para abater a Infraero em pleno voo. A partir de 2011, o aeroporto de São Gonçalo do Amarante, em Natal, puxou a fila de uma série de privatizações, confusas e controversas.

Além de outros episódios e conjunturas políticas e financeiras que também se sobrepuseram. Independentemente de qual seja o destino da Infraero, é necessário que essa história, repleta de capítulos incríveis, tanto quanto desconhecidos do grande público, seja contada satisfatoriamente. Eu, por exemplo, embarquei nela em outubro de 1980 e preferi buscar outros rumos em 2001. Mas jamais esquecerei esse sonho.

A empresa que fez tanto sucesso, poderá ressurgir das cinzas, à moda Fênix, ou se reinventar, quem sabe voltando às suas origens e atuando no fortalecimento da aviação regional, promovendo a integração, gerando empregos e atuando como propulsora do desenvolvimento das comunidades que abraçam os aeroportos Brasil afora? Esta é uma sinalização já feita pelo governo do presidente Lula e que enche de esperança todos aqueles que um dia voaram no sonho de uma grande empresa brasileira de administração de aeroportos.

Roberto Kénedy

Roberto Kénedy de Queiroz, Professor, Criador de vídeos, Graduado, Especialista, Mestre e Doutor em educação, Árbitro da CADF, Terapeuta Floral, Auriculoterapeuta, Acupunturista e Avaliador do INEP/MEC.

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