Senado se mobiliza em resposta ao STF sobre descriminalização do porte de drogas para uso próprio

Senado se mobiliza em resposta ao STF sobre descriminalização do porte de drogas para uso próprio

STF retoma julgamento sobre a descriminalização do porte de maconha para uso próprio nesta quarta-feira (6); Senado pretende votar PEC em sentido contrário

Em meio a um debate que permeia a sociedade brasileira há anos, o Senado Federal prepara para uma reação contundente a julgamento em curso no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a descriminalização do porte de pequenas quantidades de drogas, como a maconha, para uso pessoal. Enquanto o STF retoma suas deliberações sobre o assunto nesta quarta-feira (6), os senadores se preparam para votar uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que vai em sentido contrário. A análise na Corte foi paralisada no fim de agosto por um pedido de vista do ministro André Mendonça.

A PEC, conhecida como “PEC das Drogas”, encontra-se em discussão desde setembro de 2023 na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado. Se aprovada, se torna crime o porte de qualquer quantidade de drogas, alinhando-se a uma abordagem mais restritiva em relação ao tema. O senador Efraim Filho (União-PB), relator da proposta, enfatizou que é competência de o Congresso Nacional legislar sobre a matéria e que, ao longo dos anos, o parlamento tem se manifestado favoravelmente à manutenção da legislação vigente.

Atualmente, a legislação em vigor, aprovada em 2006, considera o porte de drogas para uso pessoal como crime, porém não resulta em prisão. As penalidades incluem a prestação de serviços à comunidade e o cumprimento de medidas socioeducativas por até dez meses. A PEC proposta reforça a posição do Legislativo e propõe a inclusão de um inciso ao artigo 5.º da Constituição, criminalizando a posse e o porte de qualquer quantidade de drogas sem autorização.

O senador Efraim Filho (União-PB), relator da PEC, afirma que é papel do Congresso uma definição sobre o assunto. “A competência para legislar sobre o tema é do Poder Legislativo e, por diversas oportunidades nos últimos anos, o parlamento votou a favor de manter a atual legislação”, afirmou. Para o senador, não houve omissão ou inércia do Congresso que justifique o que chamou de “ativismo judicial” por parte dos tribunais.

Pela norma em vigor, aprovada pelo Congresso em 2006, o porte de drogas para uso pessoal é considerado crime, mas não leva à prisão. Entre as penas aplicadas, estão a prestação de serviços à comunidade e o cumprimento de medidas socioeducativas por até dez meses.

No entanto, a votação da PEC na CCJ do Senado, que era esperada para coincidir com o retorno do julgamento no STF, foi adiada. O presidente da comissão, senador Davi Alcolumbre (União-AP), ainda não incluiu a proposta na pauta, e o relator estima que a análise poderá ocorrer somente na reunião da próxima semana, no dia 13 de março.

Enquanto isso, o STF está próximo de formar maioria pela liberação do porte de droga para consumo próprio. Contudo, os ministros ainda precisam definir critérios específicos, como a quantidade de maconha que diferenciará o usuário do traficante de drogas. O debate sobre a descriminalização do porte de maconha para uso pessoal no Brasil começou em 2015 e tem gerado uma série de posicionamentos divergentes.

A estratégia do Senado de apresentar uma PEC em reação ao julgamento do STF não é inédita. Em casos anteriores, como o embate sobre o marco temporal para definir a ocupação de terras por comunidades indígenas, a Casa adotou a mesma abordagem, apresentando uma proposta legislativa que contrariava a decisão da Suprema Corte. Este embate reflete não apenas uma divergência jurídica, mas também uma disputa de poder entre os Poderes Legislativo e Judiciário.

Além disso, outras questões polêmicas, como a descriminalização do aborto, têm mobilizado o Congresso Nacional. A discussão sobre o tema no STF tem gerado reações por parte de setores conservadores, que buscam apresentar projetos de lei para reafirmar suas posições. O embate entre os poderes Legislativo e Judiciário em relação a temas sensíveis demonstra a complexidade do sistema político brasileiro e a importância do diálogo institucional para o avanço democrático do país.

Fonte: Agenda Capital

Aderval Andrade

Aderval Andrade é advogado e empreendedor.

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